A Vida Pintada numa Tela

Mergulha em mim estranho desconhecido. Mergulha em minha alma para conheceres aquilo que não consigo expressar. Descobre aquilo que eu desconheço e pinta por mim a tela branca que é a vida que me aguarda. Mergulho em mim e descubro.  
Olho os edifícios que são as memórias de uma passada vida e num rabisco perfeito viro-lhes as costas. Uma explosão de traços imperfeitos invadem a minha mente, cegando-me, puxando-me para a tela que outrora pintara. Forço-me a apreciar toda a simetria de cores que me observavam. Aprecio e sorrio pronta para incentivar a minha sublime mão a procurar inspiração para uma nova tela. Finalmente consigo sair da simétrica tela para me conduzir à que tanto me esperava.  O jardim imperfeito, a sombra gelada e o vento agressivo sentiram a minha presença. Senti-lhes a horrorosa arte, chocada. Falaram e ignorei pois não era mais aquela a arte que queria pintar. 
Prossegui a artística estrada sentindo cada tela que me tocava. Um misto de arte espalhou-se em meu débil corpo, e eu senti. Senti todo o tipo de rabiscos, todo o tipo de cores e sensações. Provei cada uma das memórias que constituíam a grandiosa exposição de arte. Cheirei a fresca tinta que completava cada um dos quadros. Explodi de sentimentos e pintei. Pintei a tela branca que me aguardava.  
Riscos imperfeitos, cores renovadas e sensações ansiadas fizeram da tela antes branca a mais bela de todas. Naquele momento, de amadora a artista passei apenas porque entreguei o meu eu à tela branca que é a vida que já não mais me espera.